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Meu pai, meu herói…

outubro 22, 2009

Lá estava eu na faculdade, na aula de Redação I com o professor Celso Cruz. (não é redação, tá mais para teatro, apresentação e interpretação de livro)
Numa aula “x”  houve uma apresentação sobre o livro O Clube do Filme.

Resumidamente, o livro, trata-se da relação de pai e filho. Em que o pai oferece ao filho a opção de poder largar a escola, e o mesmo resolve largar. Mas há uma condição imposta pelo pai: eles teriam que assistir a três filmes semanalmente, escolhidos por ele…

A apresentação foi digna de elogios e aplausos empolgantes. Os integrantes, um a um, foram contando como é, e foi, a sua relação com seu pai até os dias atuais.
Houve diversas versões, mas a mais comovente e impressionante (e que me motivou a escrever esse texto) foi a última de todas.
A menina (não citarei nomes),filha de um segundo casamento, contou que sua relação não é nada boa, que eles nunca foram próximos e, junto à lágrimas e soluços, o quanto ela gostaria de reverter essa situação.
Confesso ter enchido meus olhos com lágrimas, ao ver a situação nua a que ela se expôs, expressando seus mais sinceros sentimentos. A transparência e coragem que ela trasmitiu, me deixou embasbacado. Gostaria eu de ter aquela coragem.

É triste ver isso, pois também passo por uma situação parecida. (E é aqui onde tomo um pouco de coragem para falar sobre isso)

Desde criança meu pai sempre foi ausente. Viajando para diversos países para reuniões, apresentações de projetos, estudos de mercado e outros negócios. Um workaholic.

Mesmo assim eu sempre o amei, queria sair com ele e queria viajar com ele.
Mas com o tempo, e a liberdade que meus pais me deram, fui aprendendo a viver sozinho nos meus finais de semana.
Poucos foram os momentos em que tive meus “finais de semana familiar”.
Comecei a me acostumar e não fazer questão de ter esse momento.
No começo andavamos de moto em algum lugar que ele conhecia (ele era corredor de Enduros) e quando largou o vício por motos acabou virando um viciado por Golfe. Todos os finais de semana dele são de Golfe. E não família. Pra que família né? Quando se tem uma mala cheia de tacos e bolinhas. *desabafo*

Recapitulando.

Ano após ano, fui vendo que eu menos sabia sobre meu pai, e ele de mim. E ele não parecia se importar com isso, muito menos eu.
Nunca acertava a data do meu aniversário e a minha idade. E até hoje isso se repete.
Nossas conversas são limitas a “ois”. Se resumindo a uma relação extremamente “elevadorística”.

Mas tem uma coisa que não contei, da qual me orgulho muito e do porque não culpo ele por tudo isso.

Quando pequeno a pobreza era sua rotina. O pai, um ex-militar sem sentimentos e o menor carinho por seus filhos.
Determinado que era, sempre teve que se virar para criar coragem e andar mais de um quilómetro até o colégio e voltar na escuridão atravessando uma floresta assustadora. Aprender português foi seu primeiro desafio nesse país. Para passar da primeira série sem falar português foi uma guerra. Enfim se formou no colégio.
Estudou horas por dia para entrar em uma faculdade pública, se formar e finalmente começar a trabalhar.
Começou em guichê de banco, passou por motoboy, trabalhou na área mecânica de motos da Honda (mesmo sem entender sobre isso), quase morreu pilotando uma “emprestada” da Honda, foi promovido para gerente da área, e passando por outras áreas e cargos, até chegar onde está. *orgulho*

Ele sempre trabalhou para ter o que nunca teve, e poder proporcionar tudo isso para nós. Nunca passei frio e fome. Sempre tive o que vestir, onde dormir, remédios, convênio, trasporte, brinquedos, etc. Estudei em boas escolas e hoje estudo em uma ótima faculdade.

Ultimamente: Ele, mesmo depois de anos sendo tão ausente, tenta se aproximar de mim de formas tímidas e sem saber por que terreno está andando. Não utiliza filmes como no livro, mas sempre me deu abraços do nada, me perguntando o que ando fazendo e me chamandp para jogar golfe com ele.
Hoje vejo que a culpa não é só dele, mas minha também. Nunca aceitei ir jogar golfe, esqueci dos seus últimos aniversários (assim como ele fazia comigo), nunca parei para conversar com ele, nem saber da sua vida. Então quem sou eu para reclamar quando ele não queria jogar bola comigo, ou esquecia meu aniversário?
Ele batalhou MUITO para conseguir tudo isso, e se não fosse ele eu não teria uma vida boa como a que tenho.
Não teria uma cabeça tão aberta, uma criação tão boa.

Mesmo não sendo tão próximos, eu tenho orgulho dele e o amo absurdamente. E sei que ele também.

Meu pai É o meu herói…

Agradeço aos que leram até aqui, pois está bem comprido.

Daniel Iudi Yano